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Vacina contra o HPV

A infecção genital pelo papilomavirus humano, mais conhecido como HPV, é a doença sexualmente transmissível (DST) mais prevalente. Apenas nos EUA, estima-se que cerca de 14 milhões de pessoas sejam infectadas anualmente! Ainda que grande parte das infecções sejam assintomáticas e auto-limitadas, a infecção persistente pelo HPV pode causar diversos tipos de cânceres como o câncer de colo do útero, vulva e vagina.


Existem mais de 150 subtipos de HPV identificados, sendo que destes, cerca de 40 subtipos acometem a região genital. Os subtipos de HPV são categorizados de acordo com o potencial oncogênico, ou seja, de acordo com a chance de causar câncer. Os vírus classificados como de “alto risco” são aqueles com elevado potencial de carcinogênese. Já os HPV de “baixo risco” como os subtipos 6 e 11 possuem baixo risco de evolução para câncer, podendo causar lesões benignas (como as verrugas genitais) ou de baixo grau de invasão. Basicamente, todos os cânceres cervicais são causados pelos HPV de alto risco, sendo que destes, 70% dos casos são de subtipos 16 e 18.


Quando se pensa em prevenção do HPV, devemos pensar em 2 níveis de profilaxia, a primária e a secundária. A prevenção primária do HPV pode ser realizada através da redução do contágio, que pode ocorrer através de redução no número de parceiros sexuais e do uso de preservativo. Faz parte ainda da prevenção primária a administração de vacinas, que é o tema central desse artigo. A prevenção secundária consiste no diagnóstico precoce e tratamento das lesões causadas pelo HPV, impedindo que as mesmas evoluam para o câncer.


Existem dois tipos de vacinas contra o HPV liberadas para uso no Brasil, a vacina Quadrivalente e a Bivalente. Ambas devem ser administradas em 3 doses, com intervalo de 2 e 6 meses após a primeira dose. A vacina bivalente protege contra os 2 subtipos de maior potencial oncogênico (HPV 16 e 18) e está liberada para uso em meninas de 10 a 25 anos. Já a vacina quadrivalente, além de proteger contra o HPV 16 e 18, ainda confere proteção extra para os 2 subtipos de baixo risco mais prevalentes (responsáveis por 90% das lesões tipo condiloma), o HPV 6 e 11, e está liberada para uso em meninas de 9 a 26 anos. No Brasil, a vacina de HPV vem sendo oferecida gratuitamente pelo SUS em meninas entre 9 e 11 anos, em esquema de aplicação diferente da realizada nas clínicas particulares.


Mas por que realizar a vacinação tão cedo? É recomendável que a vacinação contra o HPV seja realizada antes do início da vida sexual, quando apresenta a sua eficácia máxima. Após o início das relações sexuais, a eficácia é reduzida, mas os benefícios ainda justificam o uso dentro da faixa etária recomendada. A vacinação após 26 anos de idade não está recomendada pelos órgãos regulamentadores, como o CDC. Da mesma forma, o uso em gestantes não é recomendado. Nas pacientes que descobrem a gestação durante a vacinação é prudente que se postergue as doses subsequentes.


Logo após a liberação da vacina contra o HPV houve uma preocupação sobre os potenciais efeitos colaterais da mesma. No entanto, os estudos publicados até o momento têm demonstrado que a vacina é segura. Algumas pacientes podem desenvolver sintomas leves como dor de cabeça, febre, dor e inchaço no local da aplicação.


Pacientes com história de infecção prévia por HPV, com alterações citológicas (Papanicolau) ou com verrugas genitais, também podem realizar a vacinação conforme descrito acima. No entanto, é importante salientar que a vacina não é uma forma de tratamento dessas lesões. Ela teria como principal benefício a proteção contra os outros subtipos de HPV contidos na vacina e até mesmo aqueles não contemplados na vacinação através de reação cruzada. E ainda mais importante é lembrar que a vacinação não substitui a necessidade de seguimento citológico e ginecológico de rotina. Vamos vacinar?

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